Dos Braços da Morte

RPG:C7

Arcanjos - Episódio II

Autor: Wagner Ribeiro de Magalhães Silva.

Os Arcanjos e todos os personagens aqui descritos são partes do RPG Código 7 (C7) © 1998.

Iniciado no longínquo 22 de março de 2005


Em pleno século XXII a humanidade, ávida por dominar as estrelas, descobre que existe em Júpiter, bem no meio do sistema solar, um Portal Estelar que pode nos levar por toda galáxia e além, em uma ancestral rede de portais idênticos, de origem misteriosa, que parece levar ao domínio do infinito. Mas nós não somos os únicos que desejamos as estrelas. Há uma guerra alienígena, travada por criaturas incompreensíveis, O Inimigo, que desejam também ser os senhores de tudo. Eles não dialogam, matam. Para combatê-los, os humanos enviaram o melhor de si e uma grande frota de naves de guerra, mas isto não foi o suficiente, e a armada terrestre se viu aos pedaços. Num revés do destino, porém, uma nova chance surgiu, e ao menos a nau capitânea CGAC7 Mahatma foi retomada. Mas não havia tempo para preparar novos soldados, e o destino da humanidade está nas mãos de um punhado de veteranos e de muitos jovens formados às pressas. Esta é a história dos Arcanjos. Perdidos nos confins da galáxia, tentando descobrir como sobreviver, como lutar, como vencer. Eles precisam ser heróis.

Quem quer viver para sempre... Não há tempo para nós. Não há lugar para nós. O que é isto que constrói os sonhos,E foge de nós? (…)

(Who wants to live forever – Queen)

Dos Braços da Morte

_ Que tipo de homem faz isto? _ disse a jovem loira, sardenta, uma moleca quase, não mais que vinte e dois anos, apontado uma nave em frangalhos para sua platéia. Do público brotaram murmúrios em resposta, que diziam:

_ Bacana, mas...

_ Maluco...

_ Tolo...

_ Idiota...

_ Um herói! _ Disse a loira. E com intensidade repetiu, reticente: _ UM HERÓI... Vou fazer outra pergunta. Alguém aqui já se questionou por que diabos está aqui?

_ Não... Talvez... Sei lá... _ Disseram as bocas também bastante jovens que se reuniam a volta de um símbolo. Um símbolo de que não estavam ali para brincadeiras, um símbolo de que ao atravessarem a galáxia para defender a humanidade de uma possível invasão alienígena, eles não eram mais jovens, eram homens e mulheres, que lutam, e que morrem na maior das guerras. No meio de centenas de jovens reunidos em um dos grandes hangares da nau capitânea Mahatma, jazia o bombardeiro Kimberly Velvet, enegrecido pelas chamas de uma atmosfera turbulenta que seu piloto, o capitão Stuat Dilon, teve que atravessar desesperadamente, para salvar seus colegas e a própria missão da Mahatma da destruição. Ocorre que pouco antes disso Stuart havia conquistado a admiração de todos os jovens pilotos de Arcanjo sendo um dos primeiros a combater diretamente o Inimigo. E, no mesmo dia em que quase derreteu sua nave para salvar tudo que era importante para todos dali, o capitão perdeu a vida. Ou pelo menos foi o que se pensou, pois agora uma mensagem criptografada de rádio dizia que ele estava vivo, sozinho, na superfície de um planeta sitiado pelo Inimigo. Já fazia três dias que o sinal havia chegado, e até agora o comando da missão não havia tomado providência. E estes jovens se reuniram para fazer algo quanto a isto.

_ Estamos aqui por opção! Ouvimos um chamado urgente para proteger a raça humana, e viemos! E precisamos proteger uns aos outros, também, senão vamos falhar em nossa missão! Pois então, gente, temos que cobrar do comando uma atitude. _ bradava a jovem loira, ao que era ovacionada entusiasticamente, especialmente por uma outra jovem, uma linda morena que estava sentada bem próxima a ela. Era Mayara Iandé, a piloto de caça que enfrentara pela primeira vez O Inimigo, ao lado de Stuart.

_ É isso aí! _ gritava Iandé, punho cerrando cortando o ar. _ Nenhum dos nossos fica pra trás!

_ Isso! _ fez a loira, em concordância com a colega piloto _ Não deixamos os nossos pra trás! Não deixamos os nossos pra trás! Não deixamos os nossos pra trás!

E o brado se transformou em um coro, que reverberou pelos amplos espaços dos hangares, e se tornou uma algazarra quando os jovens pilotos e técnicos começaram a bater em metal, assobiar e gritar. Mas bastou reconhecerem o som de uma voz, que disse apenas uma frase, para todos se calarem:

_ O que está acontecendo aqui?! _ Perguntou o Agente Diplomata Comandante in Chefe dos Arcanjos, Alex Rhea, em uma voz poderosa. Ele entrava no hangar acompanhado de quase todos os veteranos do alto escalão que dirigia a Mahatma (alguns devem ter ficado na ponte de comando). Ao ver que a bagunça era liderada pela jovem de cabelos claros, Rhea fuzilou a jovem com um olhar capaz de derreter aço. Mas a jovem resistiu e devolveu a intensidade do olhar, pois tinha o mesmo sangue do comandante, e um temperamento muito parecido. Ele então disse para ela, entre dentes: _ Alexandra. O que está acontecendo aqui?!

_ Nós achamos que é uma quebra de honra militar deixar um dos nossos para trás, pai... Senhor. Achamos que uma missão urgente deve ser posta em ação para resgatar Stu.

_ Urrú! É isso aê! _ Fizeram barulho de novo, mas apenas um olhar de Rhea, desta vez, os calou. O comandante emanava autoridade.

_ O que acham que estão fazendo? _ a voz em trovão, o ADCIC Alex Rhea os intimidava a todos com sua altura e a solidez de seu olhar _ Uma reunião sindical? Pensam que isto aqui é uma fábrica, e que são meus empregados?!

Silêncio tenso.

_ Estamos em guerra, vocês são soldados, e qualquer insurreição dá corte marcial, e em determinados casos, até fuzilamento!

Um murmúrio baixinho e ansioso em meio aos jovens.

_ Sei que o pensamento de vocês é justo. Sei que é duro deixar um amigo para trás! Eu mesmo fiz isto, pois conheço o capitão Dilon há muito mais tempo que vocês! Ela já salvou minha vida! Se eu pudesse desembarcaria pessoalmente naquele mundo, e traria meu amigo de volta! Mas temos responsabilidade aqui! A HUMANIDADE INTEIRA PODE ESTAR DEPENDENDO DE NÓS!

Rhea passava em frente às paredes humanas formadas por jovens pilotos e engenheiros, encarando muitos deles, nos olhos, intensamente. Após uma demorada pausa, retomou dizendo:

_ A minha responsabilidade é reestruturar a Frota Arcanjos, e tentar descobrir como podemos defender a Terra e ao mesmo tempo se existe a possibilidade de controlarmos os Portais Estelares. A responsabilidade de vocês é contribuir com isto, agindo como bons soldados, obedecendo as ordens, e agindo com DISCIPLINA!!! E quem faltar com a disciplina novamente, fazendo reuniões deste tipo, nem vai passar pela corte marcial, eu mesmo ponho a ferros limpando os tanques de reciclagem de detritos até voltarmos para a Terra!! Qualquer um!!! _ Disse ele, lançando um olhar dardejante à sua própria filha. Alexandra desta vez “balançou” um pouco, afinal de contas, era o ADCIC. Mas, olhar contrariado, mesmo baixando um pouco a cabeça, ela não disse nada.

_ Sim, senhor... Sinto muito, senhor... _ murmuravam os jovens, vários deles de cabeça baixa, sem coragem de encarar os oficiais superiores.

_ Fahima, me passe o tablet com a lista que te pedi. _ Ordenou o comandante para a oficial de comunicações da Mahatma. Ao que a mulher de grandes olhos negros entregou a ele imediatamente o terminal de dados. Rhea pareceu concentrado nos dados por um momento, enquanto muitos jovens engoliam em seco, inclusive a própria Alexandra, que conhecia o pai, e sabia que ele não era homem de brincadeiras, se decidisse “limar” alguém ali, faria isto sem dó, mesmo que este alguém fosse a própria filha. E foi pensando assim que Alexandra quase deu um pulo quando o pai disse:

_ Tenente Alexandra Rhea!

_ Sim, senhor...

_ Aqui, ao meu lado! Tenente Mayara Iandé! _ A jovem morena, olhar triste, esboçou dizer algo, mas sob o pétreo olhar do comandante, resignou-se a juntar-se à Alexandra. Rhea continuou: _ Sargento Mariana Giordano! Tenente Pedro Herculano Rocha! _ E quando todos os chamados estavam perfilados ao lado do comandante, o primeiro oficial interino Ngoma Koriba, capitão, gritou subitamente:

_ SEEEENTIDO! _ E com grande barulho, todos os jovens presentes ficaram rígidos, em sentido. Alguns, encarrapitados em caças e equipamentos, desceram às pressas, até caindo, e ficaram em formação. Após um longo e agitado momento, em que as centenas de jovens ficavam em sentido, Rhea os passou por alto em revista, e teve quase a certeza de que nenhum havia se esquivado da ordem. Nenhum mesmo teve coragem de fazê-lo. Então o ADCIC voltou a falar, dizendo:

_ Estes serão os responsáveis por vocês. Estes aqui _ Apontou para Alexandra, Mayara, Mariana e Pedro _ Vão pagar com as próprias carreiras se outra indisciplina destas ocorrer. E também farão parte da equipe que estou designando para estudar o caso do capitão Stuart, e uma possível maneira de furar as barreiras inimigas e resgatar nosso soldado do solo inimigo. O restante de vocês deve retornar às suas tarefas AGORA! Dispensados! _ E, enquanto um burburinho se fazia ouvir, pois centenas de tripulantes voltavam apressadamente aos seus postos, Alex voltou-se para os jovens escolhidos e disse, seco: _ Peguem os dados para estudo com a capitão Fahima, e estejam prontos as 18:30 Hora Padrão, haverá uma reunião na sala de guerra.

E saiu, seguidos dos oficiais, deixando os quatro “eleitos” ainda em posição de sentido. Após longo tempo, eles relaxaram, e se felicitaram, em silêncio. Afinal, para o bem ou para o mal, eram agora integrantes de uma Equipe de Missão Estratégica. Isso queria dizer que tinham conseguido uma chance para Stu sobreviver... Ou para todos eles morrerem com ele...

...

 

(Continua... Episódio III - “...”)

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Notas do autor:

1 –...


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