Miss Jones

RPG: Remanescentes

Miss Jones

(inspirado em “Me and Mrs. Jones” – Letra no final do conto)

Autor: Wagner Ribeiro

24/08/2006

[Esta história ocorre no Universo de Remanescentes, de autoria de Claudio Augusto dos Anjos]

A moça, pouco mais de 17 anos, abriu os belos e grandes olhos escuros, expressão de poucos amigos. Ela tirou o cigarro da boca, e ficou olhando o homem. Quarentão, bonitão, bobão, inteligente. Ela o amava com seu coração jovem e desregrado, começava a perceber isso, e, como de seu costume, ficava mais fechada e agressiva nestes casos. Ele estava de costas para ela, e podia ver-lhe as costas largas, enquanto, em seu disfarce de coroa meio louco, ele olhava fixamente para uma mesa a uns dois metros das grades da cela rústica onde estavam presos.

_ Vá em frente _ diz miss Jones, com seus cabelos louros, vermelhos e negros, com matizes de verde aqui e ali, encostada numa parede da cela _ faça a chave flutuar até nossa cela, professor.

_ Este cigarro já está te fazendo mal, Jones, porquê acredita que posso fazer isso? _ Pergunta Walter, virando-se para ela, e mostrando seu rosto machucado. Ele brigou por ela com os capangas do traficante dono da boate onde estavam presos.

_ Eu sei que você pode... _ Diz ela entre dentes, com o cigarro na boca, pois usava as duas mãos para tirar algo do cós da saia de seu uniforme de estudante. É um pequeno pedaço de papel preso entre a calcinha e o corpo, que ela desdobra algumas vezes. Então mostra o papel, uma impressão a partir do site de um jornal americano. Nela se vê claramente uma foto em que aparecem alguns Remanescentes. Bem à frente, Neutron. _ É você, não é? Não ofenda minha inteligência dizendo que não...

Walter olha do papel para ela, e ergue uma sobrancelha. Realmente era questão de tempo até que alguém o reconhecesse. Mas não deveria se render tão rápido.

_ Eu realmente me pareço muito com ele...

_ Sem essa, professor! Eu estava fumando no armário da ante-sala da Diretora (uma aposta das meninas babacas do terceiro ano, eu gosto de tomar o dinheiro fácil delas), enquanto o senhor esperava para falar com ela. Eu sei o quanto a Diretora consegue ser arrogante, especialmente quando está a fim de transar com um professor e ele não lhe dá bola!

_ Jones, por favor...

_ Porra, professor, nós podemos morrer daqui a pouco, poderia dar ouvidos a uma garotinha de 17 anos que quer falar o que sabe num momento de tensão?! _ Em seus olhos fervia a presença da mulher que ela seria em breve. "Uma mulher no mínimo tão incandescente quanto Diana", pensou Walter, e fez um gesto para que ela prosseguisse.

_ Valeu! Pois eu estava lá, e vi quando ela o deixou uns vinte minutos esperando. Meu fetiche inocente. Em ambientes sociais, gosto de olhar as pessoas quando não sabem que estão sendo vistas, apenas por quê assim tenho a certeza de que elas são autênticas. Pois lá estava você, entediado, com um tabuleiro de xadrez a meio metro, enfeitando uma mesinha da ante-sala...

Walter levou a mão à cabeça e contorceu levemente o rosto, lembrando-se do momento e da indiscrição que cometeu ao jogar xadrez consigo mesmo, usando o que restou de seus poderes.

_ Quando Jacques sumiu, e eu descobri que o sumiço tinha haver com o relacionamento do cara com o porco dono deste lugar, eu tinha que tentar resgatar meu namorado, e você, monsieur Walter, era o único super-herói de que eu dispunha no momento!

_ Jones, não percebe que foi sua atitude infantil que nos colocou nessa?

_ O que eu deveria fazer, professor, chamar a polícia? O porco do Gerard tem um comissário na folha de pagamento!

_ Então sua opção foi fazer toda aquela encenação de que era uma moça precisando de auxílio, emocionalmente abalada com o distanciamento do seu pai, diplomata famoso, e se metendo com drogas. Apenas para me fazer vir até aqui na tentativa de te tirar deste lugar! Agora veja, estou usando estas roupas de moleque, preso nesta cela!

_ Desculpe... _ Disse ela numa voz sumida, de menina. Walter olhou para ela por um momento pensando em abraçá-la, mas frisou os olhos e disse:

_ Jones, você é uma dissimulada!

Ao que a menina sorriu, e disse:

_ As garotas lá do colégio apostam uma grana alta, cem francos, em quem vai te "pegar" primeiro. No começo acharam que você fosse gay...

_ O quê?!

_ A Julliete Giordin praticamente esfregou os peitos na sua cara, e você a dispensou!

_ Por quê eu sou CASADO, Jones!

_ Hummm, eu entendo, mas elas não vêem qualquer problema nisso. Mas depois que viram tua mulher e teus filhos, realmente sua família é muito bonita! Adorei o pestinha do seu filho, especialmente quando me pagou dez francos para ver o que tinha embaixo de minha saia (um short). Mas o que rola é que as garotas ainda querem te comer, senhor casadinho!

_ Pelo Amor de Deus! E você está neste grupo?

_ Fala sério. Nem sou tão bonita e gostosa quanto a Giordin.

_ É muito mais bonita que ela, Madeleine Jones, muito mais inteligente, e talvez muito mais sensata. Uma de minhas alunas mais brilhantes, apesar de deliberadamente sabotar suas próprias notas. O que nos leva de volta ao ponto: você seguiu esta tendência de atacar a si mesma, agiu contra sua natureza inteligente ao nos colocar nesta situação, então não me venha com joguinhos adolescentes, apenas assuma o erro, e não tente repetir nunca mais!

Jones não olhava para ele, havia fechado os olhos e sorria um sorrisinho charmoso, de lado, a pele alva de seu rosto formando uma covinha no canto direito de sua boca. Então disse:

_ Eu não quero morrer, professor. Trouxe a gente aqui porque amava o bobo do Jacques, mas ele era o típico macho adolescente idiota. Agora eu entendo. O imbecil se meteu a revender drogas para Gerard, e quando quis ser mais inteligente que seu patrão, acabou primeiro nesta cela, e depois no fundo do Sena. Mistério resolvido. Tire a gente daqui, por favor.

Abrir a gaveta da mesa foi muito difícil, mas arrastar a chave meio que flutuando até a cela foi mais fácil. Estavam de volta à pista principal da boate, precisavam passar por ela para fugir dali. Ele um tanto aturdido pelo barulho ensurdecedor, ela parecendo estar em seu ambiente natural. Madeleine murmurou o mais baixo que pôde no ouvido de Walter enquanto agarrava suas mãos e colocava os braços dele em torno de sua cintura:

_ Professor, estamos na Planície do Inferno, aqui as pessoas ou não são de ninguém e são de todos, ou estão bem agarradas com seus pares! Não me solte! Se te derem um tubo de ecstasy ou algo assim, tome na frente do cara, senão ele chama a direção, pois você pode ser considerado espião da polícia! E não se assuste, mas hoje você é meu "paizinho", meu "coroa"...

_ O quê? _ perguntou ele tentando também ser discreto apesar de todo o barulho dali.

_ Meu amante! Vamos! _ Puxando com firmeza o homem.

Dançavam os technos pesados e hipnóticos enquanto se esgueiravam para a saída. Walter estava quase agradecendo a Deus por poder sair daquele lugar de "cara limpa" quando um dos seguranças lhe estendeu um pequeno tubo de droga. Em poucos instantes ele dançava ainda mais intensamente, esforçando-se por manter uma equação matemática na cabeça, de modo a não deixar a droga consumir seu raciocínio. Curvas equalizadoras de fluxo, tensões superficiais de líquidos, e então ele pôde começar a notar que o próprio fluxo alucinógeno da multidão era passível de ser calculado, com equações reluzentes que se espalhavam por todo o lugar, equações da Teoria do Caos, encharcando tudo, como se estivessem mergulhados em um oceano fluorescente, denso, quente e sensual. Agarrada a ele, com os movimentos fantásticos que só uma mulher entregue à uma música excitante consegue fazer, Jones mostrava a todos o que ela e seu amante de cabelos grisalhos fariam logo-logo!

Quando estavam bem perto da porta da saída, a menina agarrou com ambas as mãos o rosto de Walter e colou seus lábios aos dele, murmurando:

_ Agarra! Me agarra mesmo! Assim! Me dá aquela pegada que você dá numa mulher que te pertence! Não, não pára de me beijar, me agarra, senão a gente não passa dos leões de chácara na porta de saída!!

Passaram pela porta de saída como dois cometas entrelaçados e incandescentes. Os seguranças gritando obscenidades como sugestões para o que Walter deveria fazer com sua ninfeta, mas nem sequer foram ouvidos. Walter, os instintos em chamas, jogou uma ardente Miss Jones sobre o capô de seu carro e, enquanto tomavam a boca um do outro, ele enfiou a mão por baixo da blusa de Jones e no mesmo instante que sentiu os pequenos e modelados seios da menina em sua grande palma, ele retirou suas mãos dela, tenso, e disse, bem alto:

_ Você! Você merece ser comida num lugar descente! Entra no carro, vou te levar pro meu canto!

Entraram no carro, e saíram cantando pneus dali. Jones ria de se esbaldar, enquanto dizia:

_ Cê ta doidasso mesmo, professor!! "Ser comida num lugar descente", ha ha ha ha, quase que os caras sacaram tudo!

_ Fique quieta, Jones, vamos até sua casa, e então direto à polícia. Eu tenho um amigo lá, dos tempos em Iron Village. Acho que podemos dar um jeito em Gerard.

_ E eu tirei fotos de tudo lá!

_ Melhor ainda. Agora fique quieta.

_ Sua esposa deve adorar quando você dá uma pegada nela assim... Que cara é essa? Faz muito tempo que não rola uma amassão assim com ela?

_ Jones, cale esta boca, ou juro por Deus que te reprovo!

No fim, tudo deu certo. De fato a polícia francesa, através do comissário amigo de Walter, desbaratou a quadrilha de Gerard. Alguns momentos constrangedores ocorreram, quando Walter contou (sem os detalhes mais desagradáveis) aos pais de Jones como ela o encontrou na rua e insinuou que ia se meter em encrencas, e como ele a seguiu até a boate para tentar convencê-la de não se meter em problemas, e dali acabou sendo envolvido na tentativa da moça de localizar o ex-namorado. Mister Peter Alonzo Jones e sua senhora cogitaram tirar Madeleine da escola, mas Walter disse que a moça é brilhante, e não merece este tipo de punição. Um mês depois Jones "agradeceu" adequadamente ao honesto e gentil professor por ter ajudado ela a ficar. Quando ele saia da sala dos professores, agitou, discretamente para que somente ele visse, uma nota de cem francos no ar. Walter parece ficar constrangidíssimo, e saiu com as faces enrubescendo. A jovem amiga de Jones, ao lado dela, cochichou-lhe:

_ Miss Jones, você venceu? Pegou o latino gostosão? Pegou A nota de cem com Giordin?

_ Não, eu apenas queria implicar com ele, eu falei a ele sobre a aposta e queria que ele lembrasse que eu sabia!

_ Ahhhhh, que fofoqueira cruel!

_ Se abrir a boca sobre isso, sabe o que acontece, né, Mirra?

Jones sorriu, maliciosa, caminhando um tanto sensual pelo corredor. Mas quando ficou só, sua expressão de poucos amigos voltou a tomar sua face. Na verdade Jones queria que Walter achasse que ela havia reclamado o prêmio mesmo. Estava se apaixonando por aquele homem, e, como ele mesmo disse, além de mais bonita que Giordin, ela é mais inteligente também. Sabe muito bem que nunca daria certo.

FIM


ME AND MRS. JONES

( Eu e a senhora Jones )

BILLY PAUL – 1972

ME AND MRS. JONES

Eu e a senhora Jones

WE’VE GOT A THING GOING ON

Nós temos feito uma coisa extravagante

WE BOTH KNOW THAT IT’S WRONG

Ambos sabemos que é errado

BUT IT’S MUCH TOO STRONG TO LET IT COOL NOW

Mas é muito forte, para deixarmos que esfrie agora

WE MEET EVERYDAY AT THE SAME CAFE

Nos encontramos todo dia, no mesmo bar

SIX-THIRTY, I KNOW WE KNOW SHE’LL BE THERE

Seis e meia, eu sei, eu sei, que ela estará lá

HOLDING HANDS, MAKING ALL KIND OF PLANS

De mãos dadas, fazendo planos

WHILE THE JUKE-BOX PLAYS OUR FAVORITE SONG

Enquanto o toca-discos, toca nossa canção favorita

ME AND MRS. JONES

Eu e a senhora Jones

WE’VE GOT A THING GOING ON

Nós temos feito uma coisa extravagante

WE BOTH KNOW THAT IT’S WRONG

Ambos sabemos que é errado

BUT IT’S MUCH TOO STRONG TO LET IT COOL NOW

Mas é muito forte, para deixarmos que esfrie agora

WE’VE GOT TO BE EXTRA-CAREFUL

Temos que ser muito cuidadosos

THAT WE DON’T BUILD OUR HOPES UP TOO HIGH

Para que não, sonhemos alto demais

CAUSE SHE’S GOT HER OWN OBLIGATIONS

Pois ela tem, suas próprias obrigações

AND SO DO I

E eu ... também

ME AND MRS. JONES, ME AND MRS. JONES

Eu e a senhora Jones

WE’VE GOT A THING GOING ON

Nós temos feito uma coisa extravagante

WE BOTH KNOW THAT IT’S WRONG

Ambos sabemos que é errado

BUT IT’S MUCH TOO STRONG TO LET IT COOL NOW

Mas é muito forte, para deixarmos que esfrie agora

WHEN IT’S TIME FOR US TO BE LEAVING

Quando é hora de nos separarmos

IT HURTS SO MUCH, IT HURTS SO MUCH INSIDE

Fere tanto, tanto lá no fundo

NOW SHE’LL GO HER WAY AND I’LL GO MINE

Agora ela seguirá seu caminho... E eu o meu

TOMORROW WE’LL MEET

Amanhã nos encontraremos

THE SAME PLACE, THE SAME TIME

No mesmo lugar, mesma hora

ME AND MRS. JONES

Eu e a senhora Jones

WE’VE GOT A THING GOING ON

Nós temos feito uma coisa extravagante

WE GOTTA BE EXTRA-CAREFUL

Temos que ser muito cuidadosos

WE CAN’T AFFORD TO BUILD OUR HOPE UP TOO HIGH

Não podemos nos permitir... Sonhar alto demais.


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